O RECUPERANDO TRABALHA DE GRAÇA NA APAC? INSPETOR RICARDO CORDEIRO

O RECUPERANDO TRABALHA DE GRAÇA NA APAC? INSPETOR RICARDO CORDEIRO
Foto: Reprodução Freepik

Quem atua como voluntário ou funcionário na APAC, certamente já ouviu algum recuperando afirmar que não vai trabalhar de graça na Apac. Confesso que também já ouvi várias vezes esta frase durante a minha atuação dentro do Centro de Reintegração Social.

Se analisarmos esta frase dentro do viés capitalista, logo entendemos que o recuperando reconhece que não está ganhando dinheiro com o serviço realizado na APAC, portanto ele entende que mereceria ser remunerado pelo serviço prestado na instituição.

Diante deste dilema mercantil, pegando o gancho com o nosso condutor de segurança e disciplina Alessandro Almeida, que também percebeu esta queixa, então propus-me a elaborar uma Valorização Humana e Terapia da Realidade com o seguinte tema: Quanto custa sua liberdade?

Diante do exposto primeiro perguntei aos recuperandos o que eles achariam se a saída temporária fosse reduzida de 07 dias para 06, de imediato todos foram unânimes em reconhecer que seria péssimo. Fiz a mesma pergunta, entretanto agora seria se a saída temporária fosse aumentada de 07 para 08 dias, e é obvio que todos reconheceram que um dia a mais com a sua família seria maravilhoso. Diante das respostas levei-os a refletir o quanto um dia faria uma grande diferença para a vida dos recuperandos.

Por conseguinte, perguntei-os quanto custava um dia de serviço deles na rua, dentre as várias respostas, um deles afirmou que ganhava 150 reais por dia.  Peguei este exemplo e chegamos a soma mensal de 4.500 reais. Dito isto indaguei-os se com este valor eles podiam ir ao juiz e comprar dez dias de liberdade, todos reconheceram que não.

Isto posto levei-os a refletir sobre a importância do conceito de remição do 03 por 01, pois a cada três dia trabalhado na APAC o recuperando remi um dia na sua pena. Portanto argumentei que era preciso que os recuperandos entendam que o labor no CRS vale muito mais que dinheiro, pois trabalhando no regime eles não ganham dinheiro, mas pagam pela sua liberdade.

Após esta reflexão trouxemos a memória, quanto cada um tinha alcançado de remição em sua pena, uns responderam quatro anos, outros três, dois, um e assim cada um ia percebendo o quanto o trabalho na APAC é valioso apesar de não ser remunerado. Outro sim, lembraram também da dificuldade que é obter remissão no sistema prisional comum.

Concluindo a Valorização Humana e Terapia da Realidade, chamei-os a serem gratos pela oportunidade que a APAC ofertou a eles, e a trabalharem felizes, pois antes de terem a oportunidade de trabalhar neste chão sagrado, muitos só iam poder retornar as suas famílias em 2028 e agora diante das remições conquistadas no labor apaquiano, poderão retornar ao seio da família em 2024.  

Por fim apesar de reconhecermos a importância da remissão na APAC, segundo Valdeci Ferreira, vale salientar que além da remissão, sempre que possível o recuperando ainda pode ser remunerado seja pelo resultado do seu trabalho na laborterapia, ou em um outro setor no CRS que possibilite o ganho financeiro; ou seja ele pode remir sua pena trabalhando e ainda pode receber algo para contribuir com o seu sustento e com o da sua família.